sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A importância do empreendedorismo e do empreendedor


Entrevista com Mario Persona
Por que o empreendedorismo é importante?

Mario Persona -
Nada acontece sem pessoas empreendedoras, com visão e disposição para mudar as coisas. O empreendedor é inquieto, percebe coisas erradas ou que podem ser melhoradas e parte para a ação.

Ser empreendedor é um "dom"? É possível tornar uma pessoa empreendedora?

Mario Persona -
Creio que algumas pessoas sejam mais empreendedoras do que outras por diferentes razões. Pode ser pelo desejo de criar algo novo ou de não se conformar com o modo como as coisas estão. Pessoas com um limitado senso de observação têm dificuldade para empreender, já que não conseguem enxergar o que há de errado com o modo de fazer algo que tem sido feito do mesmo modo há mil anos.

Creio ser possível estimular o empreendedorismo nas pessoas, mas se não existir uma resposta, uma disposição para isso, elas não sairão do lugar onde estão para fazer algo diferente. Quem está sempre em busca de uma zona de conforto dificilmente encara o empreendedorismo como um benefício. Para pessoas assim ele é visto mais como um estorvo.

Qual é o perfil e características do Empreendedor? E como identificar uma pessoa empreendedora?

Mario Persona -
Senso de observação, criatividade, inquietude, descontentamento... você pode fazer uma lista enorme de características, e em alguns umas são mais acentuadas do que outras. É preciso ser pró-ativo para ser empreendedor, e estar disposto a correr riscos e a lutar por suas idéias. Pessoas demasiadamente passivas e medrosas não empreendem.

Conheci um empresário que costumava colocar uma vassoura caída e atravessada no corredor por onde passaria o candidato ao emprego. Sem o candidato saber ele já era testado ali. Se a vassoura continuasse caída no corredor ele nem era entrevistado. Se o candidato se abaixasse para pegar a vassoura e colocá-la encostada na parede para não representar risco a quem passasse pelo corredor, esse era aprovado no teste.

Qual a importância de um empreendedor em uma empresa?

Mario Persona -
Você encontra basicamente três perfis de pessoas nas empresas. O perfil administrador é o organizado, aquele que controla tudo, que se preocupa com dados e registros, que contabiliza, enfim, é quem olha para o passado. Pode ser alguém de números, da contabilidade, do financeiro. Ou qualquer pessoa que tenha um perfil de organização, horários rígidos e coisas assim. Essas pessoas são necessárias em toda organização, mas se existissem apenas elas a empresa não avançaria, pois não são dadas a correr riscos. Geralmente elas não perguntam "quanto vamos ganhar?", mas "quanto vamos gastar?".

Aí você tem o prático, o operacional, o técnico, que é o faz-tudo, aquele que monta e desmonta as coisas, que percebe defeitos, propõe consertos. Ele pode ser confundido com um empreendedor porque tem uma boa percepção para o que deve ser melhorado ou consertado. Ele não tem necessariamente o senso de organização do perfil anterior, mas também não olha para o futuro. Seu interesse está no aqui e agora, e por esta razão ele é um executor, não um empreendedor. Está mais para usar microscópio do que luneta.

O terceiro perfil é o do empreendedor real, aquele que pode não ser muito organizado e nem sempre sabe como executar suas idéias, mas que está sempre com um pé no futuro. Pode não ser uma pessoa operacional porque acaba delegando a execução da idéia enquanto parte para outra. Geralmente as empresas precisam de empreendedores principalmente na gestão, no marketing, para viajarem o tempo todo em busca de idéias. Se colocarmos em termos de uma caçada, o empreendedor é o que sai caçar, o prático é o que prepara o churrasco e o administrativo aquele que cuida de todos os detalhes da organização e prestação de contas do safári.

Como posso trazer uma pessoa empreendedora para a minha empresa? E o que isso representará para o meu negócio?

Mario Persona -
A dificuldade é que empreendedores são esquivos e não gostam de trabalhar em ambientes engessados ou com pessoas de visão limitada. É preciso primeiro mudar a cultura da empresa para fazer dela uma empresa empreendedora, constantemente descontente com o status quo e decidida a correr riscos. Um ambiente assim atrai empreendedores, mas é importante entender que na filtragem podem passar pela malha alguns que são por demais inconseqüentes, que correm riscos desnecessários ou que não tem qualquer visão prática da viabilidade e aplicação das novas idéias.

Empreendedorismo e inovação andam de mãos dadas, mas sempre vale também aquela máxima de que "cientista e louco todo mundo tem um pouco". Até onde a loucura pode correr solta em uma empresa inovadora é ainda uma questão sem parâmetros precisos. Portanto há empresas que decolaram graças ao empreendedorismo e outras que naufragaram pela mesma razão. Por exemplo, uma inovação que é trazida para a empresa muito antes do tempo pode ser pior do que inovação nenhuma.

Quais os pontos positivos e negativos de ter empregados empreeendedores?

Mario Persona -
Deve existir um equilíbrio para que os projetos não sejam começados e abandonados. O ímpeto empreendedor é importante, mas precisa ser gerenciado para que os novos empreendimentos sejam transformados em resultados. Em uma escala menor, mais do dia-a-dia, só vejo vantagens em uma equipe com alto grau de empreendedorismo, pois o empreendedor sempre encontra novas maneiras de se fazer a mesma coisa, por mais rotineira que seja a tarefa.

Como ser um empreendedor no mundo atual, sendo que muitas coisas já foram inventadas, a competitividade é grande e o ato de se destacar no mercado é cada vez mais difícil?

Mario Persona -
Quando falamos de empreendedorismo isso não precisa ficar restrito às novas invenções, mas deve ser visto também como um aprimoramento contínuo. Há empresas que promovem o empreendedorismo e a inovação entre seus colaboradores com ótimos resultados. Muitas vezes há uma economia grande quando a própria equipe busca soluções para problemas de produção, por exemplo, trazendo idéias inovadoras que, se fossem desenvolvidas por uma consultoria externa, custariam caro para serem viabilizadas.

A competitividade no mercado é alta, mas sempre existe lugar para pessoas competentes, inovadoras e empreendedoras. O que falta no mercado é qualificação, já que a qualidade do ensino despencou nos últimos anos e nem todo mundo sabe que deve investir em educação formal e informal se quiser encontrar uma colocação. O ensino acadêmico não é suficiente para o profissional se lançar no mercado. É preciso uma boa dose de curiosidade e vontade de aprender para ele correr atrás de um conhecimento complementar, que irá diferenciá-lo de outros concorrentes.

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